Começo avisando que a coluna não tem nada contra os antibióticos, medicamentos indispensáveis para combater infecções. No entanto, escrevi, em diversas ocasiões, sobre o perigo de consumir remédios sem necessidade – e trabalho publicado em 2019 na revista científica BMJ já mostrava que quase 25% das receitas para antibióticos, prescritas nos Estados Unidos, se enquadravam nessa categoria. Isso posto, vamos à pesquisa divulgada semana passada na também prestigiosa revista PLOS One: num estudo envolvendo 14.542 mulheres nos EUA, aquelas que utilizavam uma quantidade significativa de antibióticos na meia-idade tinham maior probabilidade de enfrentar declínio cognitivo. O grupo analisado integra o Nurses´Health Study, que conta com mais de 100 mil participantes.
O uso dos antibióticos foi dividido em quatro conjuntos: utilização zero; de um a 14 dias; de 15 dias a 2 meses; mais de 2 meses. Os motivos mais comuns para a prescrição eram infecções respiratórias, de trato urinário e problemas dentários. A avaliação incluiu uma bateria de testes neuropsicológicos que aferiam quesitos como atenção, aprendizado, memória, rapidez psicomotora e cognição global. Os pesquisadores encontraram uma relação entre o aumento de exposição a antibióticos e menor pontuação em três domínios cognitivos.
Para os estudiosos, além de apontar as complicações causadas pelo
excesso de medicamentos, o achado é capaz de provocar um avanço na formulação
de hipóteses sobre o papel da microbiota na cognição, já que os remédios afetam
o equilíbrio desse ecossistema. A microbiota é a complexa associação de
trilhões de bactérias, fungos, vírus e archae (seres unicelulares semelhantes
às bactérias) em nossos intestinos. Quando ocorre um desequilíbrio, ou
disbiose, há alterações da composição bacteriana que dão origem a um quadro de
inflamação subclínica crônica, aumentando o risco para o desenvolvimento de uma
série de doenças. A possível relação entre uma transformação profunda da
microbiota e o declínio cognitivo pode levar à adoção de práticas para minimizar
o impacto causado por antibióticos, através da prescrição de probióticos e de
uma dieta mais adequada. Como os atuais 50 milhões de pessoas com demência
saltarão para 150 milhões nas próximas décadas, é imperioso mapear todos os
fatores de risco para tentar controlá-los.
Fonte: G1
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