Por Sandro Oliveira
A TRANSFORMAÇÃO tecnológica que estamos vivendo atinge todos os níveis da sociedade e tem trazido mudanças significativas na vida social das pessoas, com isso vários costumes familiares têm mudado. Por exemplo, você lembra de quando foi a última vez que revelou uma foto? Quanto tempo tem que não folheia com a família um álbum de fotografias e deu risadas daquelas fotos engraçadas que ficaram eternizadas para sempre na nossa história? O pior de tudo isso é saber que existe muitas famílias que não têm se quer um álbum de fotografias reveladas, as fotos estão postadas em redes sociais.
AS PESSOAS com mais de 30 anos, com certeza vão lembrar do que vou dizer. Quem no passado não sonhou em ter uma máquina fotográfica daquelas analógicas que tinha uma espécie de manivela que rolava para tirar a próxima foto? Os filmes eram de 12, 24 ou 36 poses, sem contar o medo que se tinha de não colocar o filme corretamente. Era preciso pensar muito antes de tirar a foto, escolher bem o momento para pose sair legal. Depois, rebobinava o filme com todo o cuidado para não expor à luz, senão poderia queimar e perder tudo. Depois de dias ou meses, levava a um laboratório para revelar e conferir se ficaram boas.
A PESSOA que sabia colocar o filme na máquina era considerada um gênio. Não era todo mundo que sabia, exigia o mínimo de conhecimento e coragem. Existia um medo de colocar e acontecer de não ficar corretamente encaixado e não ter registrado aquele momento tão especial. Imagine o batizado de uma criança, a primeira comunhão ou uma festa de 15 anos, ter os registros perdidos ou nem capturados porque o filme não foi encaixado corretamente, era um suspense danado.
AGORA, modéstia à parte, eu era um daqueles que sabiam colocar o filme corretamente. Pessoas amigas e desconhecidas me pediam para fazer o serviço. Eu fazia, mas ficava preocupado, tenso. Confesso que não gostava muito, vai que nesse dia não encaixasse o filme corretamente. Mas como eu não sei dizer não a ninguém, atendia aos pedidos com alegria e uma satisfação danada de poder estar ajudando aquela família num momento tão especial. Imagine na missa de primeira comunhão, as pessoas lhe procurando para fazer algo que naquele momento só você sabia fazer.
NO meio de várias câmeras e muita agonia, poderia acontecer de um daqueles filmes não fosse colocado de forma correta. Como explicar isso àquela mãe que ficou meia hora na fila para tirar uma foto do filho no dia da primeira comunhão e, quando foi revelar, descobriu que a foto não foi tirada, porque o filme não tinha sido encaixado como deveria. O bom é que eu sempre conseguia encaixar certo e era legal saber que as fotos ficaram boas. Ver a expressão de alegria das pessoas quando a fotografia era revelada e lá estava o que foi registrado naquele momento tão especial. Era gratificante para mim saber que aquilo guardava um momento especial na história daquela família.
COM a chegada das câmeras digitais e, principalmente, os telefones com recursos avançados, chamados de smartphones, simplesmente as fotos ficam no arquivo do celular, postamos nas redes sociais para que outros vejam. E aquele nosso familiar que não tem e não está nem aí para a internet, não tem o prazer de ver essas fotos. O mundo todo vê, mas o avô, a avó ou aquele tio que mora perto, mas não se rendeu às redes sociais, não verá as fotos porque não foram e não serão reveladas.
NÃO duvido que em alguns dias possamos ser taxados de cafonas por ter revelado aquelas fotos que hoje são antigas, mas na época era uma grande novidade. Não sou tão saudosista assim, mas gosto muito de sentar no sofá com a família e ficar olhando um velho e bom álbum de fotografias. Aproveite as fotos que está no seu celular, revele algumas e faça um álbum de bons momentos da vida. Tenho certeza que você não vai se arrepender.
Sandro Oliveira
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