domingo, 19 de dezembro de 2010

A Lapinha de Natal

DESDE criança que gosto de montar o Presépio de Natal, aqui irei chamá-lo de “Lapinha” porque foi assim que aprendi nos tempos de menino e a lapinha, segundo São Francisco de Assis, representa o nascimento de Jesus. Lembro-me quando eu era criança colocava meus carrinhos de brinquedo, desenhos da escola, conchinhas da praia, galhos secos... e esperava o velho “Badunga” do Riachão (quem é do meu tempo e mora em Coração de Maria sabe de quem estou falando), ele vendia no mês de dezembro a samambaia e o gravatá. Como naquele tempo o pisca-pisca era artigo de luxo as casas simples eram enfeitadas com essas plantas. Infelizmente com o desmatamento e as facilidades dos produtos chineses, hoje se arruma as lapinhas com acessórios que não fazem parte da nossa cultura.

NO TEMPO de criança era costume dos meus irmãos e amigos visitarmos algumas lapinhas da cidade de Coração de Maria. As senhoras que faziam as lapinhas não se contentavam apenas com a montagem da gruta abrigando a Sagrada Família, cercada pelos Reis Magos. Aqui quero lembrar a lapinha de Dona Didi, Dona Zita, Dona Delza e Lena de Du, até hoje Lena faz, mas não com aquela imponência que fazia-nos viajar. A gruta tradicional sempre estava presente, feita de pedras enroladas com papel metro, jornal pintado com tinta guache, a decoração tomava o rumo imaginado por elas. 

E COMO era fértil a imaginação delas. Colocava-se de tudo que tinha em casa para homenagear o Menino Jesus. Bonecas de pano, de plástico, fotos de revistas da Avon, carros de brinquedo, enfim, eram vários enfeites. Mas a principal matéria prima que elas usavam era o amor pela festa do nascimento do Filho de Deus. A nossa imaginação de criança ia longe, visitávamos mais de uma vez as mesmas lapinhas, e tínhamos a sensação que estavam diferentes ao dia anterior, mesmo não tendo mudado nada.

E A TRADIÇÃO da queima da lapinha? Sempre no dia dos Santos Reis. Era uma beleza! Lena de Du convidava a vizinhança para cantar a folia de Reis, se não me falha a memória os cantos eram assim: “queima lapinha de Nazaré / até para o ano se Deus quiser”, depois vinha “Bendito Louvado Seja / o Menino Deus nascido / que no ventre de Maria / nove meses foi escondido / depois dos nove meses ele foi aparecido”. Comíamos pipoca, bolo, bebia Q-suco, refrigerante... 

Ah, como eram bons aqueles tempos de Natal. Mesmo com as dificuldades, eram mais alegres, inocentes, não falávamos muito em Papai Noel, era tão distante de nós, queríamos mesmo era ver as lapinhas. Com o passar do tempo o costume foi perdendo força com o desaparecimento de algumas senhoras que faziam de tudo para que o Natal fosse mais humano, mais nosso do que “americanizado”, mais bonito, mais alegre.

CONFESSO que me emocionei quando estava escrevendo esse texto. Lembrei de muita coisa boa, uma pena que esse espaço é pequeno para dividir com vocês aqueles belos momentos. Até hoje continuo fazendo a lapinha em minha casa, não como aquelas de Lena de Du, Dona Didi e outras. A lapinha me faz viajar, me faz querer voltar aos tempos de criança, de querer um mundo com mais amor.

DESEJO a todas as famílias um feliz e abençoado Natal e um Ano Novo de muita Paz.


Sandro Oliveira

Um comentário:

  1. oi Sandro!!ao ler seu relato,relembrei um momento muito feliz da minha vida,lembro-me que fica euforico nos periodos que antecediam a montagem da lapinha,iamos para a mata para tirar o gravatá e a samambaia e depois fica deslumbrado quando a via montada também ancioso aguardando a chegada do grande dia aonde seria baiada a lapinha com direito a pastorinhas que cantavam e dançavam em louvor a Deus menino,ao final queimavam os ramos em seguida catavam o rei e depois sambava até o dia amanhecer;é uma pena as tradições estarem acabando,sinto muita saudade,da lapinha,da esmola cantada,das novenas em louvor a São Roque,São Cosme São Damião,samba de roda entre outros...(sou de Ipuaçu,Distrito de Feira de Santana)

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