quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Por consideração ao irmão do morto

Por Sandro Oliveira 

Certa vez, ao passar em frente à Igreja Matriz, automaticamente fiz o sinal da cruz, um gesto de fé que se tornou parte do meu cotidiano. Nesse momento, notei um homem por quem eu tinha grande respeito parado na porta da igreja. 

Dentro da igreja, havia um caixão. Curioso, me aproximei e perguntei-lhe quem havia falecido. Ele disse que tinha sido o irmão dele. Educadamente, ofereci meus pêsames. Por respeito, decidi acompanhar o velório até o cemitério.

Quando chegou a hora de carregar o caixão, por "consideração" a ele, em um ato simbólico de despedida e honra, peguei em uma das alças. Mas logo percebi que tinha poucas pessoas acompanhando o velório. E notei que estava quase sozinho nessa tarefa. Pois, o irmão do falecido e os demais parentes em nenhum momento se ofereceram para carregar o defunto. 

Cerca de 500 metros separam a igreja até o cemitério, mas nesse dia parecia uma eternidade de quilômetros, pois não estava suportando mais com o peso do caixão em minha mão, e ninguém para ajudar.

Justo quando o cortejo fúnebre, estava quase chegando ao cemitério e eu não aguentava mais, alguém veio me aliviar e pegou a alça do caixão. Foi um grande alívio! 

Ao me afastar do caixão, percebi algo que me fez rir sozinho: eu nem conhecia o morto de nada! Carreguei o caixão só por "consideração" ao irmão do falecido, que, por sinal, não carregou o caixão nem por um segundo. E eu ali, pensando que tinha feito a minha parte, que parte mais besta!

Com um suspiro de alívio, disse baixinho: "Que Deus perdoe os pecados dele e console seus familiares". Uma frase feita, dita mais por obrigação do que por convicção, depois de ter carregado o caixão de alguém que eu nem conhecia.

Sandro Oliveira

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