Fiel à sua doutrina,
todos os anos a Igreja católica combate com veemência os excessos cometidos
pelos foliões durante a maior festa popular do Brasil, o carnaval. O que pouca
gente sabe é que esta folia pagã tem o seu calendário definido em conseqüência
de um sistema de cálculo inventado pela própria Igreja católica.
Por essa metodologia, a
igreja, primeiro, define uma de suas datas mais sagradas, o domingo de Páscoa,
quando comemora a ressurreição de Jesus Cristo. A partir daí, chega-se ao
domingo de carnaval com uma fórmula simples: contam-se retroativamente sete
domingos.
É exatamente por isso que
o domingo de Páscoa e o carnaval são datas móveis, ao contrário de outros
feriados, fixos, a exemplo do 21 de abril (morte de Tiradentes), 7 de setembro
(Independência), 2 de novembro (Finados) ou 15 de novembro (Proclamação da
República).
Lua
cheia eclesiástica
Como regra básica, a
Páscoa tem de cair no primeiro domingo após a lua cheia que seguir ao equinócio
de primavera no hemisfério norte. O equinócio marca o início da primavera -
geralmente, a 21 de março. No entanto, a Igreja católica se baseia em projeções
sobre o satélite feitas no início da Idade Média, que já não coincidem com o
ciclo lunar real. Assim a Páscoa depende da chamada "lua cheia
eclesiástica".
Durante muitos séculos,
os fiéis e os próprios representantes da Igreja católica encontraram muitas
dificuldades para entender e explicar a fixação do calendário da Páscoa e do
próprio carnaval porque havia uma discrepância muito grande entre as datas.
Somente com a entrada em
vigor do atual calendário, o gregoriano, criado pelo papa Gregório 13
(1502-1585), no século 16, é que o domingo de Páscoa passou a cair
obrigatoriamente entre 22 de março e 25 de abril. A partir destas duas
referências, os responsáveis pela organização do carnaval podem programar a
festa com muita antecedência.
A instituição do
calendário gregoriano aconteceu em 1582. Alertado por astrônomos sobre algumas
imprecisões no calendário juliano, a Igreja católica suprimiu dez dias (de 5 a
14 de outubro) daquele ano para efetuar o ajuste no tempo. Ou seja: as pessoas
foram dormir no dia 4 de outubro e acordaram no dia 15.
Carnaval
fixo
A partir da década de 70,
empresários e agentes hoteleiros que trabalham principalmente em cidades
turísticas, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, iniciaram um movimento,
para determinar uma data fixa para a folia carnavalesca, sob a alegação de que
a festa móvel traz prejuízos econômicos ao país.
Mesmo sabendo da data com
anos de antecedência, muitos turistas estrangeiros não conseguem vir ao Brasil
porque não estão de férias no período carnavalesco. De acordo com os
empresários, com uma data fixa, os turistas e os milhões de brasileiros que
gostam do carnaval poderiam se programar para participar da festa. Por
enquanto, eles ainda não obtiveram sucesso. Prevalece a tradição católica.
Fonte: Manuela Martinez é
jornalista e publicitária (uol.com.br)
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