terça-feira, 23 de maio de 2023

Devolvam meu São João!

Por Sandro Oliveira

O MÊS de junho está chegando e com ele as Festas Juninas. Parafraseando Dorival Caymmi, me atrevo a dizer que quem não gosta de festa junina bom sujeito não é. Fala a verdade: pra nós nordestinos São João é a melhor época do ano, é ou não é? Sem falar que movimenta a economia. Mas eu preciso fazer algumas ressalvas. 

SABEMOS que as festas de São João trazem lucros para o comércio, atraem turistas que ocupam pousadas, alugam e casas, gerando emprego e renda para muitas pessoas. Isso é muito bom! Mas esse ainda não é o meu São João. Também sei que o São João de hoje tem bandas famosas, ritmos como piseiro, sertanejo, arrocha, pagodão, para animar os jovens e adultos. Isso também é bom! Mas esse ainda não é o meu São João.

NÃO que eu seja contra os hits do momento, gosto de todos os gêneros musicais, até entendo que a festa tem que ter outros ritmos, mas o forró deve ser maioria. Nas festas juninas, gosto mesmo é de um forró pé de serra, uma boa banda de forró, de um forrozeiro como Flávio José, Santana, Adelmário Coelho, Del Feliz, Targino Gondim, Alcymar Monteiro... 

NÃO se pode negar que muita coisa hoje está melhor do que no passado, mas sinto saudades do bom e velho São João. Os jovens talvez não sintam o mesmo e não têm culpa disso, porque não viveram o São João do passado, portanto gostam do que lhes são oferecidos hoje em dia. Mas tenho certeza que o meu São João e o de muita gente, é aquele da amizade, da alegria simples e sincera, da confraternização entre familiares e amigos.

O MEU São João é aquele que as pessoas passavam na nossa casa e perguntavam: São João passou por aí? Aposto que você não ouviu essa frase no último São João. E quando as pessoas perguntavam, a resposta era com entusiasmo e alegria: Sim, pode entrar a casa é nossa! As pessoas eram recebidas com bolo, pé de moleque, milho, canjica, licor, amendoim, laranja, queijo cuia, só coisa boa. 

NAQUELE tempo, as pessoas vinham visitar a nossa cidade para ver a fogueira, dançar uma animada quadrilha, rever os familiares e amigos, sentar ao redor da fogueira para prosear, tomar licor e ouvir forró na caixa de som amplificada. Hoje os visitantes vêm com outro sentimento. Querem saber quais são as bandas que irão se apresentar, se o cantor que está fazendo sucesso na mídia vai se apresentar. Esses são alguns critérios para os visitantes decidirem qual o destino vão tomar. 

O SÃO JOÃO do passado era mais festas, mais alegria e mais confraternização.  A tradição vem aos poucos se perdendo, me parece um caminho sem volta. As quadrilhas juninas ainda estão acontecendo, mas muitas com danças e músicas longe do tradicional. Os casamentos caipiras vem dando lugar aos arrastões, tocando músicas de linguagem depreciativa principalmente contra a mulher. Nas ruas não se pode andar tranquilamente, o barulho excessivo dos paredões tomam conta de tudo.  Não sou contra os arrastões juninos, pelo contrário, gosto porque animam a turma jovem, mas penso que deveriam tocar músicas da época.

OUTRA coisa que vem se perdendo, as casas já não são mais enfeitadas com bandeirolas, vizinhos não vão às casa de vizinhos. Não há mais alegria espontânea, romantismo e fraternidade. Definitivamente, não se faz mais festa junina como antigamente. 

POR favor, devolvam o meu São João!

Sandro Oliveira



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