NA BÍBLIA, o jejum é uma prática religiosa ligada à penitência. Os
fariseus e os discípulos de João Batista jejuavam com frequência. Jesus jejuou
durante quarenta dias antes de começar o anúncio do Reino de Deus. Do ponto de
vista religioso, o jejum é uma renúncia a um bem importante em prol do
crescimento espiritual. Somente privar-se de comer ou beber, sem uma atitude
interior de conversão, não leva a pessoa a ser melhor consigo, com os outros e
com Deus.
A PRIVAÇÃO pela qual passamos, ao renunciar a algo legítimo, nos
remete do que é passageiro para o que é eterno, do que é criatura para Aquele
que é o Criador. Ao jejuar, purificamos não somente o corpo, mas também o
espírito. E quanto menos apegos tivermos a coisas, mais espaço terá Deus em
nosso coração. Quem jejua, desocupa o coração, o preenche de Deus e se abre ao
próximo, assistindo-o e promovendo-o.
AO RENUNCIAR a bens deste mundo, entendemos que eles não são
exclusivamente nossos, mas que devem ser partilhados com todos. E, alguns
mestres espirituais, afirmam: “Aquilo que não comemos, praticando o jejum, não
pertence mais a nós, mas aos pobres”. Por isso, o verdadeiro jejum é aquele que
leva à conversão a Deus e ao próximo. É solidariedade com os mais necessitados.
PRECISAMOS, também, atualizar o conceito de jejum. É necessário
fazer jejum do excesso de tempo gasto nas mídias sociais, jejum do ódio, de
fofocas, de ciúmes, da inveja, das ingratidões, do egoísmo, da raiva, do
pessimismo, de amarguras, de tristezas, da falta de perdão, de fake News e
jejum de palavras: Falar menos e ouvir mais. Além disso, é necessário privar-se
de comidas e bebidas e de outros bens. Há tantas coisas em nossas residências e
nos locais de trabalho que podemos repartir!
JESUS nos ensina que o jejum deve ser a expressão de conversão e
de caridade, e não uma prática hipócrita que não transforma nossa vida, mas nos
enche de vaidade como ocorria com muitos fariseus. O jejum bíblico encontra a
sua razão na profunda necessidade de partilha e de conversão. Por isso,
torna-se fonte de alegria quando sabemos nos privar de algo, por amor e com
amor, para vermos o outro feliz.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito de Feira de Santana
Nenhum comentário:
Postar um comentário