ANTES que alguém comente que o título é uma referência ao livro Marley & Eu, que deu origem ao filme com o mesmo nome, preciso esclarecer que apenas o título é semelhante, pois o restante não se relaciona. Sempre tive uma afinidade especial por cães e já tive a experiência de criar diversos deles. Na última vez que fui responsável por um, cerca de sete anos atrás, fiz um compromisso de que não iria criar mais. Essa escolha foi motivada por várias razões. No entanto, acabei rompendo essa promessa e, mais uma vez, estamos cuidando de um cachorro.
ESSE se destaca dos demais por ser um cachorro que viveu nas ruas. Vou narrar essa história de maneira breve. Em um dia chuvoso, um cão apareceu em frente à minha residência. Minha esposa e minhas filhas sentiram compaixão e me pediram para acolhê-lo. Abri o portão, deixei que ele entrasse e passasse a noite protegida da chuva na varanda, avisei: só por hoje, tá bom? Na manhã seguinte, quando abri o portão, ele se despediu e partiu.
NA NOITE seguinte, ele apareceu novamente em frente ao portão, olhando para mim com um semblante de tristeza, como se dissesse: "Deixe-me entrar, estou me molhando e sinto frio." Que coisa, não consegui resistir e deixei-o entrar. Durante uma semana, ele ficou nesse que chamei de "regime semiaberto". De jeito nenhum queria que ele permanecesse. Permitindo que saísse, torcia para que ele não retornasse. No entanto, sempre que ele encontrava um de nós na rua, reconhecia e fazia a maior festa. Em uma ocasião, desapareceu e ficou dois dias sem dar sinais de vida. Isso foi o bastante para notarmos sua ausência. O que mais temíamos estava acontecendo: estávamos nos apegando a aquele ser que, até então, era apenas um estranho para a família.
QUANDO ele retornou, não houve como evitar: optamos por adotá-lo, e em pouco tempo ele já se mostrava bem acomodado em nosso lar. Giovanna questionou: Pai, qual nome iremos escolher para ele? - Eu respondi: O nome dele será King!. Assim, nosso cachorro estava oficialmente nomeado, pois King significa Rei em inglês. No dia seguinte, levamos ele à veterinária para as vacinas e a ração.
CONTUDO, o imprevisto aconteceu. Uma semana depois, King ficou enfermo, e um abscesso surgiu, comprometendo completamente seu olho direito. Procuramos um veterinário especializado em cirurgias, que afirmou: "A solução mais adequada é realizar uma cirurgia para remover o olho." Isso gerou um desespero em mim e nas minhas filhas.
– O que você quer dizer com "tirar o olho"? E ele conseguirá levar uma vida normal?
– Com certeza, essa é a melhor atitude a tomar, afirmou o médico veterinário. Além do susto, teríamos que arcar com os custos da cirurgia, que não seriam nada acessíveis.
NESTE momento, visualize a cena. Com um misto de compaixão, acolhemos um cachorro abandonado e, em pouquíssimo tempo, surgem essas dificuldades e custos em minha rotina. Custos que nenhum dos outros cães que tivemos anteriormente nos trouxe.
CONVERSEI com as meninas:
– Veja só o que encontrei.
– Pai, agora não há mais o que fazer, afirmou Marcelle.
– Ele pertence a nós; se voltar para as ruas, pode não sobreviver por muito tempo devido a essa questão no olho, acrescentou Giovanna.
Dirigi meu olhar ao veterinário e disse:
– Assim sendo, doutor, separe o montante no cartão e faça a cirurgia no cachorro.
PASSAMOS quatorze dias repletos de preocupação e atenção, mas, felizmente, King está completamente recuperado, agora com apenas um olho! Eu não o havia mandado embora antes, e agora, após todo esse investimento, ele ficou conosco de vez. Andreia, minha esposa, que não tinha tanta afinidade com os outros cães, agora tem apenas carinho e afeto por ele. As meninas conversam com King em um tom de voz infantil, como se falassem com um filho. Elas acham que King é, na verdade, um humano com pelos e patas. É engraçado pensar assim?
COM toda essa experiência, aprendi uma valiosa lição. Além de ter enriquecido nossos dias apenas por estar ao nosso lado, King, com seus desafios, nos ensina bastante sobre resiliência e sobre o que realmente devemos valorizar na vida cotidiana. Atualmente, ele circula livremente pela casa, adentrando até os quartos, uma liberdade que nenhum outro cão teve em nosso lar. Ele é fantástico! Sem dúvida, o verdadeiro soberano do nosso lar!
Sandro Oliveira